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Desabafo!

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Coluna publicada na Revista Warm Up de abril de 2010.

Hoje o papo não é sobre automobilismo, mas é um caso de força maior. Não é novidade para ninguém que o primeiro passo para se resolver um problema é aceitá-lo. Pois bem, eu aceitei. E, como forma de iniciar meu processo de cura, decidi expor meu caso em público, para que, de certa forma, possa ajudar quem esteja passando por uma situação como essa. Até porque o aumento do número de casos é alarmante.

Sim, eu tenho um problema. E não é nada novo, pelo contrário. Começou há muito tempo, na infância. Período colegial, garoto descobrindo o mundo, sem medo do desconhecido, sem dar atenção aos conselhos dos pais. E, sim, foi nessa que eu caí.

Naquela época, meados dos anos 80, o grande medo era dos baleiros. Figuras hoje extintas, mas que naqueles tempos dizia-se que podiam ser uma porta de entrada de uma criança ao mundo do vício. Pois bem, foi com ele que tudo começou.

Era algo diferente, novo e, realmente, viciante. No começo, era só prazer e satisfação, mas com o tempo foi virando obsessão. Aquela necessidade de ter sempre mais, de querer muito aquilo. Os colegas e amigos também acabavam envolvidos e as professoras, quando percebiam, muitas vezes confiscavam o material durante a aula. Era uma tragédia. Isso quando não chamavam os pais, aumentando a dramaticidade do caso.
Mas nem sempre se quer enxergar o problema, e foi o que aconteceu comigo. Minha família fingiu que nada existia e a situação foi se deteriorando. Cada vez eu queria mais, cada vez sentindo menos satisfação e precisando de mais. A alegria vinha, mas era fugaz. Com freqüência, o sentimento era de frustração, culpa, arrependimento.

Com o tempo, o baleiro saiu de cena e o produto começou a ser vendido nas esquinas. Não era todo mundo que vendia, mas com alguma atenção, você descobria e fazia negócio ali mesmo. O cheiro ao abrir a embalagem era inacreditável, um aroma quase mágico.

Os anos foram passando e a necessidade, sempre aumentando. A mesada era toda consumida rapidamente. Dias após, já pedia mais dinheiro, com a desculpa de levar alguém no cinema. Mentira. Aprendi a enganar por conta de um vício.

De uns tempos para cá, tudo foi ficando ainda mais perigoso. Apareceram novas versões, que “dão brilho”. E mais nocivas, até porque muitos cobram mais caro por elas. E o vício só se faz aumentar. Você não consegue parar, você precisa sempre de mais e mais.

De fato, as autoridades têm razão quando dizem que se trata de uma epidemia próxima do incontrolável. Eu mesmo, adulto, homem de família, não consigo me livrar dessa maldição. E percebo que ainda passo adiante para outras gerações. Agora é meu sobrinho de 11 anos que está padecendo desse mal, por minha culpa. Que tipo de cidadão sou eu? Como posso estar semeando essa perdição em nossa sociedade? Como ficar em paz com a minha consciência?

Sim, eu preciso de ajuda. Mas, antes de mais nada, preciso é desabafar. Álbum da Copa, eu te odeio.


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